Como gerar impactos sociais e promover ações positivas na moda, conheça o Instituto Ecotece

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[Grupo de Mães Oca – um dos 16 grupos apoiados pelo Ecotece]

A relação entre moda e sustentabilidade é um tema recente no país, mas que está gradualmente ganhando importância e visibilidade já que estamos mais informados e conscientes sobre os inúmeros problemas encontrados na indústria da moda atualmente.

Sabemos que precisamos mudar nossa maneira de atuar para construir uma moda que respeita às pessoas e o planeta e, para nos auxiliar nessa transformação surge o Instituto Ecotece que há mais de 10 anos atua com a temática da moda sustentável no país.

O Ecotece acredita que “pode-se abrir caminhos de mudança e tecer um mundo melhor humanizando os processos produtivos e promovendo mais inclusão, satisfação e conexão entre os envolvidos da cadeia da moda: criadores, produtores e consumidores”.

O SDF conversou com a Lía Spínola, diretora do Instituto, para nos contar sobre o trabalho que desenvolvem e como geram impactos sociais e promovem juntamente às marcas, designers e grupos produtivos ações positivas na moda e na vida de cada um.

1.  Poderia nos contar como surgiu o Ecotece e qual a missão do Instituto?

O Instituto Ecotece é uma OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) fundada em 2005, pela jornalista Ana Candida Zanesco que visa gerar soluções criativas na moda por meio da educação e do desenvolvimento de produtos sustentáveis.

Na época a Ana Zanesco trabalhava como assessora de imprensa de um desfile voltado para estudantes, que já não existe mais, o Eco Fashion Brasil. Devido a esse trabalho a Ana foi buscar informações sobre moda e sustentabilidade e percebeu que não existiam ou que eram de difícil acesso, no Brasil não tinha nada sobre o assunto e lá fora ainda era um tema incipiente. Então a Ecotece nasce como um portal que reunia informações, cases, estudos, pessoas, um pouco de tudo relacionando o que significava sustentabilidade e moda, um portal um pouco mais acadêmico.

A missão do Ecotece é construir uma cadeia de moda mais humana e sustentável, que promova a produção e o consumo responsáveis, a proteção do meio ambiente e inclusão social.

2. Como vocês atuam e quais serviços oferecem?

Nesses 11 anos muita coisa aconteceu no Ecotece, deixamos de ser um portal de informação e atualmente trabalhamos desenvolvendo projetos em três frentes de atuação: educação, desenvolvimento de produtos e fomento social.

Na área de educação, no momento, trabalhamos com 3 projetos principais:

·         Comunidade Ecofashion: projeto que usa a moda como um meio facilitador para trabalharmos assuntos complexos junto às crianças das periferias de Mauá e Santo André. Através de oficinas de desenvolvimento de produtos com materiais recicláveis, levantamos esses assuntos, confeccionamos roupas que depois são desfiladas e, por fim acontece uma exposição. São 10 escolas, 300 crianças impactadas, e agora em 2017 vamos ter a exposição do projeto do ano passado e começaremos um novo Comunidade Ecofashion que dobrará de tamanho, trabalharemos com 600 crianças.

·         Renda Renascença, estudamos e promovemos cursos no Instituto já há muitos anos ligados a essa técnica. A proposta é que possamos compreender melhor a técnica da renda e também “popularizar” no sentido de que mais pessoas tenha acesso a esse aprendizado, pois hoje em dia está muito restrito, são mulheres no nordestes já senhoras, enfim tem pouca gente produzindo.

·         Também organizamos palestras e algumas atuações junto às empresas.

A segunda área do Ecotece é o desenvolvimento de produtos e a terceira é o fomento social, essas duas áreas estão superconectadas.

O principal projeto da frente desenvolvimento de produtos é o Ecotece +: a proposta é fazer parcerias com marcas de moda que estejam alinhadas aos nossos valores, como uma consultoria, trabalhamos com essas marcas no primeiro momento, auxiliando nos produtos que irão produzir. Nossos expertises são: a) consultoria de materiais – parcerias e mapeamento com todos fornecedores de matérias-primas brasileiras;

b) desenvolvimento de produtos – producão de modelagem, ficha técnica e graduação;

c) depois que esse produto está pensado e fechado, o Ecotece tem um serviço de gestão produtiva, que está conectado com a nossa terceira frente de atuação, o fomento social.

A gestão produtiva é sempre realizada com a nossa rede de grupos, hoje são 16 grupos apoiados.  São sempre grupos em situação de alguma vulnerabilidade e grupos ligados ao Comércio Justo e a Economia Solidária, sendo uma das principais características a alto gestão.

Hoje, temos dois perfis principais na nossa rede: grupos de mulheres dentro de comunidades carentes e grupos da saúde mental. Cada grupo vai ter uma especialidade distinta, por exemplo, grupo de costura, no qual é dividido por: grupo de malharia, tecido plano e sempre separado por níveis. Tem grupos que já estão em uma fase mais avançada, que costuram muito bem e que conseguem produzir peças mais complexas, e temos também grupos de costura de base que fazem sacolas, por exemplo, que entendemos que é a primeira etapa.

Também temos diversos grupos artesanais, com técnicas de tricô, crochê, renda renascença, tear e técnicas de estampa.

A gente atua com os grupos de duas maneiras:

·         Através de incubações para grupos, com o programa Lab Moda Mais, apoiamos grupos em três frentes principais: a) comercial e negócios – basicamente seria o grupo entender bem o que ele tem de expertise e que nível que está e como ele se conecta com o mercado (perfil de cliente e como chegar nele). Nesse programa temos um módulo com várias etapas que são trabalhadas dentro das incubações ligadas a esse tema; b) a outra frente é ligada a técnica – desenvolvimento para que eles estejam cada vez melhores naquilo que eles fazem; c) e o terceiro assunto é a gestão produtiva – trabalhamos questões como, calendário, qualidade, organização da produção.

Todos os grupos que são incubados continuam na nossa rede, vamos captando demandas específicas para esses grupos, acompanhando a produção e auxiliando o grupo em tudo que for necessário principalmente nos três aspectos mencionados acima.

3. Qual o perfil das marcas que trabalham com o Instituto?

São sempre marcas que a gente acredita que esteja aliada com o que acreditamos e com os nossos valores. Não necessariamente sejam marcas sustentáveis, hoje temos três principais tipos de marcas que chegam até nós:

– Marcas que já tem um DNA sustentável dentro delas há muito tempo, como é o caso da marca Flavia Aranha, parceira Ecotece já há muitos anos.

– Marcas jovens e, é o que tem acontecido bastante nos últimos anos, várias marcas que já nascem com a questão da sustentabilidade, então temos um braço que vai apoiar a implementação dessas marcas novas.  

– Marcas que não são sustentáveis, mas estão começando a repensar seus processos e pouco a pouco estão mudando as suas políticas e a sua cadeia produtiva, por exemplo, o projeto que fizemos com a marca Cavalera.

4. O Instituto Ecotece trabalha há mais de 10 anos com moda sustentável, como vocês analisam a evolução do tema nos últimos anos? Acreditam que está havendo uma mudança no comportamento das pessoas e das empresas?

Eu acredito que estamos evoluindo muito, quando o Ecotece nasceu não existia nenhuma relação entre sustentabilidade e moda, durante vários anos, a gente se aproximou de empresas e indústrias de outros setores, pois o diálogo com a moda era inexistente e muito difícil no começo, não havia abertura.

Então, acredito que as coisas estão mudando muito, acho que primeiro vieram novas marcas, de pessoas que estavam saindo da faculdade ou tinham estudado fora do Brasil, pessoas engajadas querendo lançar marcas e projetos já com esse conceito.

E agora eu vejo também uma mudança nas marcas já estabelecidas, é bastante recente, mas está ganhando poder. Estamos vendo grandes empresas, varejistas, como C&A, com institutos que estão mudando sua missão e focando na questão de sustentabilidade.

Muita coisa tem acontecido e muita coisa ainda vai acontecer, mas ainda estamos engatinhando. Notemos pesquisas aqui no Ecotece que dizem que a moda está 20 anos atrás, em termos de consciência do consumidor, da indústria de alimentos, particularmente acredito que estamos ainda mais longe.

5. Para vocês, qual é o principal problema da indústria da moda atualmente e como o Ecotece colabora para a mudança?

Acho que todos, a indústria da moda é muito complexa, ela é muito grande e há problemas em todas as etapas da cadeia, desde a plantação da matéria-prima até chegar na utilização das roupas pelos consumidores.

Eu acredito que não existe nenhuma solução pré-pronta e que nenhum projeto nem nenhuma empresa vai conseguir lidar com esse assunto na sua totalidade. Então, eu acredito que a mudança está aí entre esses diversos atores, projetos e empresas que estão engajados em atuar em algum ponto dessa problemática.

No caso do Ecotece, já fizemos muitas coisas e atuamos em diversos assuntos e, para os próximos anos, temos como diretriz a atuação na humanização dos processos produtivos, promovendo mais inclusão, satisfação e conexão entre os envolvidos da cadeia de moda, criadores, produtores e consumidores. Então, estamos muito focados nessa conexão das marcas de moda junto aos grupos que produzem, tanto no fortalecimento dessa relação quanto, também trazendo pessoas que de alguma maneira trabalham com moda mas que não conseguem atuar de uma maneira ética ou fortalecida junto a esse mercado.

6. Hoje, fala-se muito sobre comércio justo/fairtrade, porque devemos dar atenção a esse tema? E como saber se uma marca/empresa realmente pratica o Comércio Justo?

Acredito que o Comércio Justo é bastante importante em relação à descentralização do dinheiro, é conseguir distribuir melhor os poderes e as parcerias, levando trabalhos, por exemplo, para as comunidades ou para grupos e empresas menores, mais distantes que estão dentro de comunidades e fomentando mais o empreendedorismo.

O Comércio Justo possui diversas diretrizes de valorização bastante importantes que tem um bom diálogo com a moda.

Agora para saber se uma marca realmente pratica o comércio justo é complicado, certo?! Porque não temos como saber exatamente o que está acontecendo dentro de uma marca, mas quanto mais transparente, contar histórias e demonstrar um pouco do que estão fazendo mais podemos conhecer sobre a marca e seus processos.

No olhar do consumidor é sempre mais complexo, acredito que tem que reparar nas parcerias, por exemplo, quando uma marca se associa ao Ecotece, por exemplo, nós podemos garantir o que está sendo feito dentro do Instituto, tudo está alinhado às políticas do Comércio Justo, não nos associamos com qualquer um.

Mas, claro não temos como garantir que todas as coisas são corretas dentro da marca, porque isso é inviável, porque nem grandes auditores tem como auditar uma marca hoje. Infelizmente ou felizmente vamos ainda pelo bom senso e confiança, porém, infelizmente, não é possível confiar em tudo que as marcas fazem.

7. Para vocês qual a importância da valorização da mão de obra e desenvolvimento de comunidades na indústria da moda?

A importância é que basicamente quando falamos em moda sustentável um dos principais pilares é a valorização das pessoas, e parte dessa questão, não sua totalidade, está ligada também ao dinheiro, a promover boas relações de trabalho, abertura para o diálogo e boas condições de trabalho. Acho que essa é a grande questão.

Em termo de desenvolvimento das comunidades é o que já comentei sobre a descentralização dos recursos.

8. Qual o papel dos consumidores para ajudar a construir uma moda mais justa e sustentável?

Eu acho que temos muito poder como consumidores, às vezes eu penso que temos mais poder como consumidores do que como eleitores, por exemplo. Isso no sentido de que nós estamos fazendo as escolhas com muito mais proximidade. No momento em que você decide ir a uma loja tal, comprar a roupa tal que é feita por tal material, por mais que ainda temos dificuldades de compreender o que está por trás dessa peça, por trás dessa empresa, acho que ainda conseguimos ter mais informações do que, por exemplo, do candidato que vamos votar. A gente entre na loja, pega peça, pode ver o que tem dentro, tem uma etiqueta, falar com os vendedores, com o dono,cada vez mais a mídia e os sites das empresas contam muita coisa.

Para saber mais sobre o Instituto Ecotece e acompanhar seus projetos acesse o site: http://ecotece.org.br e acompanhe suas redes sociais: Instagram e Facebook  

Sobre sustentabilidade e gratidão

Você conhece a expressão japonesa Mottainai? Tiemi Yamashita, especialista em sustentabilidade nos contou tudo sobre esse conceito.

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foto por Gaelle Marcel, site unsplash

Já falamos no Blog SDF que hoje tratamos nossas roupas e muitas coisas que compramos como bens descartáveis, gerando quantidades imensas de resíduos e impactos negativos ao planeta. Mas aqui vem mais uma bela razão do porque precisamos repensar essa cultura do use e descarte!

Mottainai, significa “o não desperdício”. Essa expressão japonesa nos ensina a “reconhecer o valor de todos os recursos ao nosso redor e, a partir disso, aproveitar tudo com respeito e gratidão, eliminando o desperdício”.

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Tiemi Yamashita

O SDF conversou com Tiemi Yamashita, referência em Mottainai no Brasil, criadora de projetos inovadores que mesclam responsabilidade socioambiental e desenvolvimento humano como Desafio do Bem e Caia na Real, além de professora convidada nos módulos de sustentabilidade dos cursos de MBA do Biinternational School e pela Faculdade Cásper Libero de São Paulo, para nos explicar esse conceito e como podemos aplicá-lo no nosso dia a dia para consumirmos com mais consciência e sem desperdício.

Primeiramente poderia contar um pouco de sua história e sua relação com o tema sustentabilidade?

Neta de japoneses, cresci dentro de uma cultura em que não se desperdiça nenhum tipo de recurso, pois tudo tem seu valor e precisa ser respeitado e valorizado.  Confesso que eu não entendia e até reclamava de ficar aproveitando a água da chuva, reaproveitando embalagens de margarina, usando roupas que já foram usadas pelos irmãos mais velhos. Mas depois de adulta fui fazer um curso de especialização em Sustentabilidade e descobri que o primeiro passo para praticarmos a sustentabilidade  é eliminar os desperdícios. Entendi que eu já praticava sustentabilidade desde pequena.

O que significa Mottainai e qual sua importância na cultura japonesa? E como ele está relacionado com a sustentabilidade?

Mottainai é uma expressão japonesa que geralmente quer dizer “desperdício” porém, o verdadeiro significado da palavra é MOTTAI –  DIGNO   e NAI – NÃO , ou seja   na verdade o significado é “não ser digno”.

Quando você escuta um japonês dizer “Mottainai”, ele não está simplesmente dizendo “que desperdício”  ele está dizendo “você não está sendo digno deste recurso!”.  Acho que isso é o cerne da sustentabilidade, se nós formos dignos de todos os recursos que possuímos, teremos atitudes mais sustentáveis.

Você acredita que o conceito Mottainai colabora com a vida das pessoas?

Sim, quando entendemos o conceito do Mottainai, passamos a ter escolhas mais conscientes.  Não só entendemos, mas principalmente sentimos os desperdícios e por isso fazemos escolhas  mais  sustentáveis.

Como você analisa o consumo na sociedade atual e como nos relacionamos com o desperdício?

O consumo na sociedade atual é insustentável. Um consumo focado no “TER” para ostentar.  É preciso lembrar que quando se compra algo ele é seu 24 horas por dia e 7 dias da semana. E quanto você de fato usa?  Pensar em sustentabilidade é pensar na usabilidade de tudo o que se consome.

Já faz alguns anos que os temas sustentabilidade e consumo consciente vem ganhando cada vez mais destaque, na sua opinião as pessoas e empresas estão realmente se preocupando com as questões socioambientais? Você acredita que está havendo uma mudança no comportamento das pessoas e das empresas?

Sim, principalmente com a crise econômica que está provocando mudanças em todos os níveis. A falta de dinheiro para comprar as roupas novas, está fazendo com que sejam aceitas novas formas de consumir ou de reaproveitar ou reciclar. As pessoas estão mudando para casas menores e estão tendo que escolher o que realmente importa, percebendo que ter demais também dá trabalho. Tem uma frase que diz assim: Quanto menos eu consumo, percebo que menos eu preciso. Quanto menos eu preciso, mais livre me sinto.

Consumir menos não é se sentir mais pobre ou inferior, é entender que precisamos de menos e consumir menos é libertador.

Como praticar o Mottainai no dia a dia e consumir de forma consciente em um mundo cheio de excessos?

Para praticar o Mottainai é preciso seguir 3 passos simples:

  1. Dar o valor –  Isto é, se perguntar: Qual o real valor deste recurso? Indo muito além do valor monetário. Por exemplo, qual o valor da água para minha vida?

  2. Reconhecer a Cadeia –  Reconhecer que para esse recurso chegar até você, ele passa por uma longa cadeia de extração, produção e comercialização. Um alimento passa por milhares de mãos, dezenas de processos até chegar a sua mesa. Com o objetivo de nos alimentar.

  3. Sentimento de Gratidão –  Depois de dar o valor e reconhecer a cadeia, sentimos gratidão por termos acesso a este recurso, pois muitas pessoas no planeta não tem acesso a recursos básicos.

E como podemos demonstrar Gratidão de forma concreta? Não desperdiçando nada.

Nesse vídeo a Tiemi Yamashita fala um pouco mais sobre consumo consciente e sustentabilidade, vale a pena conferir.

Para saber mais sobre o Mottainai e o trabalho da Tiemi acompanhe seu site e canal no youtube.

Site: www.mottainaisustentabilidade.com.br

Youtube: https://www.youtube.com/channel/UCB7v-F6nkvyV-vNlXqVrMbQ

Email: tiemi@mottainaisustentabilidade.com.br

Nesse Natal escolha consumir menos

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No meio da correria típica de final de ano, compras por impulso são muito comuns e, para evitarmos um Natal cheio de excessos é importante consumirmos com consciência, escolhendo melhor e analisando se de fato aquele produto ou serviço é realmente necessário.

Ainda mais agora que estamos enfrentando uma crise econômica, não faz sentido gastar  dinheiro que não temos com coisas que não precisamos. Segundo uma pesquisa realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) em todas as capitais do país, os consumidores vão gastar menos com presentes porque precisam economizar. A pesquisa relata que aproximadamente 137 milhões de brasileiros devem presentear alguém neste Natal sendo o gasto médio por presente de R$ 109,81, uma queda de 5,3% em relação ao ano passado.

E dá para aproveitar essa época sem comprar tanto, certo?! Com algumas simples mudanças conseguimos consumir melhor, evitar o desperdício – de dinheiro e recursos – e, claro, aproveitar muito ao lado da família e amigos.

O Instituto Akatu preparou algumas dicas para colocar em prática o consumo consciente e sustentável para as festas de final de ano. Separamos algumas, mas você pode conferir a lista completa aqui. Inspire-se e Boas Festas!

  • O valor do presente pode estar muito mais relacionado à sua criatividade e significado do que ao preço. Invista em projetos DIY – faça você mesmo – e/ou incentive comunidades locais comprando produtos artesanais, de produtores independentes e do comércio local;
  • Pesquise bem antes de comprar, procure fabricantes ambientalmente responsáveis, informe-se sobre como são feitos e por quem são produzidos. Valorize marcas que comprovadamente praticam a responsabilidade socioambiental;
  • Doar peças que estão esquecidas no guarda-roupa, organizar bazares de trocas entre amigos e a comunidade é uma ótima forma de dar um melhor uso às peças que já não utilizamos mais;
  • Grande parte do lixo produzido no Brasil é formado por embalagens e isso causa um grande impacto ao meio ambiente, por isso, evitar a geração desnecessária de resíduos é fundamental. Procure utilizar embalagens mais simples e que possam ser reutilizadas. Na hora do descarte, encaminhe o material para reciclagem.

Brechó não é coisa do passado, confira a entrevista com Ana Mastrochirico criadora do site Garimpo Mag

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Comprar em brechós não é nenhuma novidade, seja para encontrar roupas de décadas passadas e exclusivas ou simplesmente para economizar, o garimpo de peças é um hábito antigo e está ganhando cada vez mais força nesse momento em que estamos repensando nossos hábitos de consumo, já que optar por comprar peças de segunda mão, reutilizando-as e estendendo seu ciclo de vida, parece ser a opção mais sustentável que há.

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Ana Mastrochirico

O mercado de brechós no Brasil também foi impulsionado pela crise econômica que estamos vivendo, o aumento de lojas, principalmente, virtuais oferecem bons produtos a preços mais acessíveis. O setor movimenta 5 milhões por ano no país.

Para conhecer mais sobre esse universo convidamos a Ana Mastrochirico, designer gráfica e idealizadora do site Garimpo Mag, para contar um pouco sobre sua experiência no garimpo de roupas e ajudar aqueles que ainda não se aventuraram entre as araras cheias de peças com histórias.

1. Conte para nós um pouquinho sobre seu site e de onde surgiu seu interesse por brechós e por garimpo de peças.

A Garimpo foi uma consequência do hábito de comprar em brechós. Essa prática vem de família, minha mãe sempre ia em brechós e me levava junto. Quando mais nova não entendia o quanto isso tinha algo de positivo, mas depois de mais velha, já na universidade adotei cada vez mais esse hábito. No primeiro momento era uma questão de gostar apenas, é muito bom achar uma peça de roupa única pra chamar de sua e que ninguém mais vai ter, a exclusividade era o que mais me atraia.

Como sempre estava usando looks de brechós e as amigas elogiavam e perguntavam como eu achava essas coisas legais, resolvi começar uma página no facebook pra falar sobre o assunto, mostrar as peças que encontrava e indicar brechós na cidade de Vitória – ES, onde morava. Quando vi que eu gostava mesmo de falar sobre brechós resolvi começar o blog. Isso já tem uns 3 anos.

Em 2015 passei o ano todo fazendo o projeto #365diasdebrecho. A proposta que cumpri foi ficar 1 ano inteiro usando apenas peças de second hand e brechós, pra mostrar que dava sim para adotar uma nova forma de consumo. Nesse tempo meu olhar sobre o assunto foi amadurecendo e também comecei a vender algumas roupas que selecionava em minhas idas aos brechós como uma forma de fazer um ciclo sustentável de consumo. O blog foi importante para falar sobre a experiência e abordar cada vez mais assuntos relacionados ao consumo consciente também.

2. Para você o que é mais importante ao comprar uma roupa em um brechó?

O mais importante é a qualidade, nesse sentido analiso bem para ver se não tem defeitos. Além disso gosto de roupas vintage, com uma carinha mais diferenciada, coisas que a gente não encontra em lojas comuns. E gosto de escolher peças que possam combinar com o que tenho em casa. Ter um guarda-roupa reduzido ajuda muito nessa hora, fica mais fácil pensar nas possibilidades de combinações na hora que estou garimpando.

3. Você acredita que existe uma nova tendência de consumo em brechós? Porque acha que isso está acontecendo?

Sim, acredito! São vários fatores, mas acho que atualmente o principal deles é crise financeira pela qual o país está passando. O poder aquisitivo diminuiu e as pessoas encontraram outra forma de consumir e até empreender, por isso essa tendência de surgimento de mais brechós. As pessoas compram nos brechós por conta do preço baixo e com o tempo começam a perceber que esse é um mercado rentável e que envolve também responsabilidade ambiental, ou seja, acredito que comprar em brechós está se tornando uma tendência pela facilidade e necessidade. Espero que essa tendência fique por um bom tempo, pois acho que ter essa consciência de um consumo baseado em reutilização é o futuro.

4. Quais principais conselhos que você daria para alguém antes de comprar em um brechó? 

Hoje existem vários tipos de brechós, aqueles que são bagunçados e realmente cheiram a naftalina e outros que são um pouquinho mais gourmetizados e que já tem uma pré-seleção das peças. Nesse último é como comprar em uma loja, pois tudo é bem organizado. Mas, pra quem prefere garimpar MESMO, o melhor lugar pra achar peças vintage são os brechós bagunçadinhos. Nesse caso, é sempre bom ter olhos atentos, visualizar bem as peças e principalmente experimentar antes de comprar, uma vez que as modelagens de roupas antigas são um pouco enganadoras.

Em relação a tecidos e estilos vai muito do gosto pessoal. No meu caso, quando entro em um brechó vou primeiro nas peças com estampas, que normalmente são lindas e muitos bem trabalhadas. Prefiro peças de linho e de preferência com uma modelagem bem diferente. Acho que o bacana de um brechó é encontrar roupas de outras décadas, elas tem uma qualidade muito maior do que as produzidas hoje em dia. Acho que não vale a pena ir em um brechó pra comprar uma roupa da coleção passada de uma fast fashion, sabe!? Ao fim, garimpar em brechó é uma questão de prática, uma forma também de exercitar nossos gostos e conhecer melhor nosso corpo.

5. Na sua opinião quais são as principais barreiras que impedem que muita gente ainda não compre em brechós ou roupas de segunda mão? E como mudar isso?

Acho que ainda existe um certo preconceito, e pelo que vejo, no interior isso é ainda mais forte. As pessoas tem vergonha de serem vistas comprando roupas usadas. Em outros casos é só uma questão de falta de hábito, a pessoa nunca foi, nunca comprou, e nunca precisou, então não vê motivos pra usar roupas usadas.

Por outro lado, todo mundo que entra uma vez em um brechó e encontra uma peça linda pra chamar de sua volta a comprar sempre! Querendo ou não, acho que é tudo uma questão de tendência e informação. Se a amiga compra, a pessoa se sente influenciada a comprar, ou seja, tendência. E quanto mais a pessoa tem informações a respeito do assunto mais ela se sente a vontade para aderir aos brechós. É por isso que a Garimpo existe, a ideia é mostrar para as pessoas que o brechó tem coisa boa sim, e que dá pra se vestir muito bem e ainda contribuir para o meio ambiente, mesmo que indiretamente.

6. Estamos vivendo um momento de repensar nossos hábitos de consumo como você acha que a cultura de brechó e peças de segunda mão colaboram com isso?

Acho que a cultura de brechó é o primeiro passo em direção ao consumo consciente. Pois é prático, é mais comum, é acessível, e é a partir daí que as pessoas passam a se questionar sobre outros assuntos que envolvem seus hábitos de consumo. Ficamos muito tempo condicionados as fast fashions, não existia um questionamento tão ativo sobre o consumo desenfreado como existe hoje.

O brechó é na verdade a porta de entrada para hábitos mais saudáveis de consumo. Muitas pessoas ainda não se dão conta disso e por isso é importante falar cada vez mais sobre o assunto. Pode ser que isso não salve o mundo, mas que vai ser um passo para mudanças maiores, isso vai.

7. Poderia dar algumas dicas de brechós que você conhece e que vale a pena conhecer?

Acho legal falar de alguns online, que estão com peças bem legais e conteúdo bacana. E assim também todo mundo pode ter acesso:

Garimpário – É um brechó lá do Sul, pra quem está procurando peças diferentes e casacos mais pesados é uma ótima pedida.

Alabama Hotel – É um brechó relativamente novo, mas eles estão fazendo um trabalho bem legal com conteúdo e editoriais bem bacanas.

Aurora Rouparia – É um brechó com peças antigas, mas com uma pegada bem moderninha. Tem de tudo um pouco e um precinho bem camarada.

No insta também tem muito brechós legais, que fazem vendas como se fosse numa loja online:

@velharia_brecho – Peças vintage muito bem selecionadas, enviam pro Brasil todo

@saravabrecho – Nesse tem roupas pra meninas e meninos. O feed é bem legal, vale a pena dar uma olhada.

@ogarimpobrecho – Esse é o meu brechó, por lá vendo peças que garimpo em brechós em SP. Tudo feito com muito amor e carinho.

Acompanhe o site Garimpo Mag e fique sabendo tudo sobre brechós, garimpo de peças e consumo consciente.

Conheça também outros brechós e iniciativas no site SDF 🙂